Ser livre com a estomia
Durante todo o ano de 2023, eu estava "correndo" uma maratona para sobreviver dentro de hospitais em diversas cidades e estados do país.
Naqueles momentos, enquanto caminhava pelos corredores frios e solitários do hospital, empurrando o suporte com a bomba infusora cheia de medicações e me alimentando através de dieta parenteral, eu olhava pelas janelas enormes do sétimo andar e via pessoas lá embaixo passando nas ruas em suas "correrias" do cotidiano. Eu pensava o quão livres elas eram e, no meu íntimo, me questionava: "Será que eu vou conseguir cruzar a linha de chegada mais uma vez? Será que ainda terei mais uma chance de ser livre novamente e retornar à minha rotina corrida?"
Ao todo, em 2023, passei por três grandes cirurgias, e em todas elas o período de internação foi longo. Na última, que ocorreu a cerca de 600 km de distância de toda a minha família, meu estoma foi trocado de sítio no meu abdômen, o que representou um grande desafio de (re)adaptação. Foram três longos meses longe da minha cidade, divididos entre cirurgias, internações, consultas, exames, aprendendo a andar sozinha de metrô em São Paulo e conhecendo novos lugares e pessoas.
Durante esse período convivendo com a cidade mais corrida do Brasil, enquanto alguns odeiam a pressa nas estações de trem e metrô, eu me apaixonei por aquela vida corrida de "Sampa". Afinal, era tudo o que eu mais almejava enquanto olhava pelas janelas do hospital.
Então, quando finalmente pude retornar à minha cidade, minha rotina mudou um pouco, e eu tive que aprender a ter paciência e RECOMEÇAR (MAIS UMA VEZ) DEVAGAR...
Após alguns meses de espera, meu médico me autorizou a retomar a musculação (da qual eu sentia falta diariamente). Pouco depois, eu me inscrevi em uma prova de corrida de rua de 5 km (sem nunca ter corrido na vida!). Alguns desafios se apresentaram, como, por exemplo, se a bolsa de estomia ia suportar o tempo de treino no calor e se iria descolar com o suor.
Mas na corrida de rua, eu encontrei a tão almejada LIBERDADE! A cada quilômetro vencido, lágrima derramada, euforia, frustração, contato com a natureza e SENDO PCD vencendo meus próprios limites, era uma conquista, e é uma SENSAÇÃO ÚNICA!
Consegui concluir minha primeira prova de 5 km e mantenho relações saudáveis com outros corredores que não são PCDs e me veem como inspiração! Nas redes sociais, outros estomizados estão querendo iniciar na corrida de rua porque veem que é possível fazermos isso, apesar de termos uma bolsa de estomia!
Claro, a bolsa e os adjuvantes da Convatec me dão todo o suporte que eu preciso e a confiança de, inclusive, já ter me inscrito em várias outras provas de corrida de rua pelo Brasil!
Com a corrida, estou aprendendo a ter paciência, a me superar a cada dia e a reafirmar diariamente que A BOLSINHA NÃO É O FIM, MAS O RECOMEÇO!
Sou imensamente grata a Deus, porque há alguns meses eu estava "correndo" para sobreviver no hospital, e hoje eu corro na rua com a bolsinha de ileostomia em definitivo! Eu me sinto VIVA, LIVRE, e como é bom saber que eu tive sim uma nova chance e consegui cruzar a linha de chegada!
Mal posso esperar para continuar percorrendo (com muita saúde) cada quilômetro dessa maratona incrível chamada "VIDA"!
BORAAA VIVEEER!
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